12 agosto 2013

Agradecida


♡ A bronca que eu levei do meu pai. a tristeza da minha mãe diante da decepção comigo. A briga com as coleguinhas da escola. A surra que tomei da menininha da minha rua. O primeiro amor não correspondido. A sensação de não pertencer ao grupo. O olhar de mágoa da amiga diante de minha traição na adolescência. A dor de ter sido enganada pela melhor amiga. O fora do primeiro namorado. A dor da família sendo desfeita. O ressentimento de não ter proporcionado o acolhimento necessário. O inconformismo diante da falta de gratidão de uma pessoa a quem tanto tentei ajudar. O eu te amo, tão esperado, que nunca veio. A solidão. Desesperança, falta de fé.
 Todos temos nosso saco de dores.

Ninguém gosta de sentir dor. E nós, seres pensantes, dotados de um grande mecanismo de defesa chamado EGO, estamos sempre fugindo das nossas. O Ego, ahhh, o Ego... O Ego é imediatista, que nem criança mimada: quer tudo, o que quer e o que não quer, agora. O Ego não tem paciência. Ele incomoda, fica parecendo pernilongo zumbindo à noite na orelha, te dizendo: "mas como?".


 A gente tenta,o tempo todo fugir do sofrimento. Você já reparou como foge? Você foge do que sente, foge do que acha que vai sentir, foge do que acha que os outros sentem, foge do que você não quer sentir e que nem quer que os outros sintam. Seu sobrenome poderia ser "FUGA". Porque você nunca está, de fato, onde está no momento. Você está fugindo, o tempo todo: buscando referências de passado que impeçam que as dores sentidas sejam repetidas, ou se antecipando ao futuro, como se tivesse uma bola de cristal que vai te dar todas as respostas.

Mas o que tenho aprendido e descoberto é que as nossas dores, todas elas, nos transformam. Apenas temos que nos dá conta do que esteve por trás de cada uma das mágoas e dores.

mas, "quem sofreu mesmo?"  "Não fui eu, porque eu, meu amigo, estive tentando fugir. Quem sofreu foi a criança abandonada. A pessoa traída. A adolescente insegura. A pessoa excluída. A garota rejeitada. A amante desprezada. A amiga desimportante. A salvadora não-reconhecida. O ser humano mal amado. Uma pessoa solitária. A pessoa esquecida. Uma alma, que dói".

Nunca, nunca, nunca conseguí admitir ser nenhuma destas pessoas. Tenho fugido, tentando mostrar às pessoas o quanto sou forte, e boa, e capaz, e auto-suficiente, e independente, e indestrutível, e imortal. Venho varrendo quem sofre prá debaixo do tapete, e mais cedo ou mais tarde esta parte de mim, que vem sendo rejeitada, vai pedir a conta - quem é que aguenta ir deixando tantas partes de si mesmo para trás e continuar seguindo em frente?

Mais cedo ou mais tarde a vida vai me passar a perna, e tudo aquilo que mais neguei em mim vai começar a ser esfregado na minha cara - quer seja através de pessoas que vão refletir a sua pior parte, tal qual um espelho... Seja através da repetição das mesmas situações vez depois de vez, te obrigando a sentir de novo todo o re-sentimento que evitei.

Hoje quero ser grata a cada uma de minhas dores; na época em que as sentí eu não sabia, mas elas estão me transformando. Eu as evitei, corri delas, vesti minha armadura de menina super poderosa e tentei voar, saltando do prédio mais alto. Caí de boca tantas vezes que até perdi a conta. Mas hoje não, hoje sou grata a elas, porque elas voltaram - e continuam voltando. E tal qual uma lagarta, que precisa enfrentar o casulo para se transformar em borboleta, eu aceitei a escuridão, calor e umidade da prisão das minhas dores e suportei o insuportável, para que asas coloridas pudessem sair das minhas costas.

O processo não terminou - e não sei quando ele, um dia, chega a terminar. Mas hoje, sou grata por ele. Talvez a vida seja este processo. Talvez viver seja aceitar a dor e permitir que ela nos transforme - tal qual o ouro, que precisa suportar o fogo para ser purificado. E nós somos ouro: nada além do metal de mais pura nobreza.

E você, pelo que se sente grato?
Namastê ♡

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